sexta-feira, abril 18, 2008

PAX MEDITERRÂNICA ( MICROCOSMOS) - 1999

Falar deste poema é sensacional.
Primeiramente, de um apanhado sem lógica alguma, os versos dele vão se ajeitando e formando idéias livres para o leitor atento, intrigado ou fascinado, que compreende possibilidades incríveis de olhares sobre a vida, ou sobre fatos históricos. Eu posso dizer que já compreendi bastante deste poema, por mais que algumas pontes podem ser "viagem minha" ou "absurdo, sem lógica". Ainda, não sei se ocorrerá isto, não consegui entendê-lo como totalidade. na minha opinião, não há totalidade neste poema, pois ele fala do universo que é milhonéssimamente maior que a nossa lógica, ao que podemos entender. Se pensar que um inseto, vê milhares de cores e frequencias a mais que nós humanos. Ou, que eu existo aqui e existo lá, tudo ao mesmo tempo. Este poema é mais um reflexo dessa complexidade de nossa pequeneza.
Este poema foi feito em conjunto por mim e por minha amiga Clariana Alba, pessoa muito sensível, bastante acolhedora, envolvida com a poesia, com a natureza. Estávamos na casa do Fábião ( Fábio Peres) com ele e a Lígia (Lili Mathias), assistindo Microcosmos, filme que retrata em minúcias a relação dos animais, das plantas, das águas, do barro, do vento, do sol....com todos eles, integralmente. Assistíamos o filme e espontaneamente começamos, num jogral, a declamar versos, um após o outro. O clima era de canais abertos ao cosmos e uma percepção de envolvimento e perda do limite racional. Eu anotava os versos e depois de alguns dias, ajeitei-os, e deu este maravilhoso poema de que gosto muito.
Eram tempos da entrada na universidade, éramos calouros nesta época e da mesma turma. saudades!!! Com vocês....


PAX MEDITERRÂNICA (MICROCOSMOS)

poema composto por EMRIQI e Clariana Alba



H2O e ar não se misturam
Como um espelho abandonado
Mas se for necessário eles se unirem
Para a libélula azul se aconchegar
Ai então posso lhe contar os segredos do céu
Que é azul assim, é um espelho do mundo
Que as sombras das nuvens se façam no ar.
Que as pedras da Lua e de Marte se unam
Para dançar um balé cósmico
Verde de reflexos do lago azul
É a rã que se banha com devoção
Numa tormenta de lágrimas.
Guarda-chuvas brancos, algodões
O caracol da vida no espiral do mundo, num espiral da nuvem
O Sacrifício de Tito
Assim como se movimenta faz metrô
A nuvem que era gato virou um rato
Formigas que entram e saem, interior
Que o Kremilim da abelha se faz no mato
A flor que embala a abelha, acalenta
Pecado em minha cabeça se trâmita
Cipó de folhas fazem besouros
Cem mil pés para chegar aonde?
Que destino!
Que terra!

II

Lutar, num corpo a corpo hereditário
Desperta aos que estão dormindo
Vá Quilombo dos Palmares, a capoeira está nascendo
Luz se faz harmonia...
Comida
Alimento da terra
Sagrado
Entranhas da velhice, alimentação
Bosque encantado
Formas do tempo
Que tempo! Que formas!
Que entranhas, que velhice, que pernas
Ponto final. é só uma nuvem.
Sol...sol se pondo em algum lugar do universo, porque n'outro, ele está nascendo
Berço, berço da vida, descanse em paz no violeta da noite.

III

A noite tá vindo, né?
Se liga na noite, na madrugada...
...o horário
Vigias da noite
Crateras lunares
São tão profundas
Como eu ser humano imagino
E como as mariposas nem imaginam
Elas já sabem
Elas já sabem as respostas.
Lagos frios de Nuremberg
Faz-se um estranho provergia
Gigante tótem poderoso
Do poder se faz a ideologia.
Pianos de Bach nasceu catedral
Portal da Igreja remanescente
Espelho do espírito se faz transparente
Formas geométricas racionais
Fazem teclas de piano, fazem anéis de prata
A corrida começou
Que o lago contaminou o petróleo
Da esperança, dá luz na natureza
Esta música é um tesão.

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terça-feira, abril 01, 2008

OS BOCAS DO INFERNO - Gregório de Matos, Eu e a Patota...



Para quem não conhece Gregório de Matos, apresento-o. Ele foi o Boca do Inferno, o poeta mais perigoso do séc. XVII na Bahia, autor de sátiras e humores ácidos frente a sociedade aristocrata colonial. Sua biografia pode ser vista no site da Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Gregório_de_Matos.

Pelos meus conhecimentos sobre este baiano-poeta, sua figura é muito discutida em relação a sua identidade: se ele foi um nobre aristocrata que para escrever sobre a aristocracia, se refugiava no pseudônimo Gregório de Matos, e não se sabe a identidade deste aristocrata. Ou, se esta pessoa foi da alta sociedade que percorreu as ruas boêmias agarrados a prostitutas, mulheres de melhor estirpe que as primeiras, também estigmatizadas, a gozar a vida e atirar farpas. Acredita-se, pelos indícios históricos, que ele foi a segunda opção, a mim, muito mais interessante. Existe também uma dúvida sobre a origem de seus poemas, de quem os escreveram, que tem relação com esta esquiva frente ao poder dos aristocratas. Neste texto de Haroldo de Campos, pode-se melhor compreender esta história, no sitio Jornal de Poesia - http://www.revista.agulha.nom.br/har01.html.

Eu tive aulas na Unb de barroco e, eu lembro que Gregório era um boêmio, de andar caído várias vezes pelas calçadas. Se eu tivesse conhecido este camarada, creio que seríamos grandes amigos, a vociferar verdades nuas, armas de afugentar burgueses, cagados pelos marginais loucos e bêbedos. Momento, onde a rua pertence aos de alma quente, que gozam o corpo celeste das estrelas e da via Láctea, impulsionados pelos cantos líricos da sacanagem, do falar baixo, em tons altos, a clamar e xingar honras a nobres poetas boêmios do passado, perpetuando a poesia dessas almas livres. A gozar também, das pernas rígidas e dos olhares desconfiados da instituição familiar, religiosa e burocrática. É o momento da rua, da música, do encontro, das carnes púdicas. Eu, Gregório (o Boca de Brasa), e a patota toda, a esticar o bigode, a exalar o cheiro da rua, misturado, e a contar piadas limpas da verdade.

Agarrados um ao outro, ombros amigos a duas pilastras de sangue etanoíco, a caminhar pelos Barrios e a soltar uma poesia após outra, e a clamar cada uma com o gargalhar de Dioniso e a levantar a “botilla de águqardiente”, e a tratar delicadamente às prostitutas, a convidá-las para cantar em outro bar, Gregório, diria:

“EMRIQI, tenho um poema

A UMA FREIRA, QUE SATIRIZANDO A DELGADA FISIONOMIA DO POETA, LHE CHAMOU PICA-FLOR.

Se Pica-flor me chamais,
Pica-flor aceito ser,
mas resta agora saber,
se no nome, que me dais,
meteis a flor, que guardais
no passarinho melhor!
se me dais este favor,
sendo só de mim o Pica,
e o mais vosso, claro fica,
que fico então Pica flor.

Rá-ráraáráraááá !!! “Gregório – disse eu – o que dirá os deuses da sacanagem ?” “Somos nós, rárar´rar´rará, os poucos que não andam adormecidos!!! – esbraveja O Boca.

E não podia faltar, eu emendo com um poema meu:

“Veja Gregório...

PRIMAVERA

Tu já deves ter visto
Os detalhes da primavera:
Sua flor é um belo misto
De cores e curvas em quimera.

E, persisto nos detalhes,
Verás: o tão branco é o seu botão.
Então, faça, afaste as folhagens
E entenderás minha paixão.

Em nenhuma outra prima, uma flor
Se abre tão rapidamente
Quanto esta, num estalo!

Que de tão perto, a mesma sente
A aproximação de outro talo,
É a minha primavera em seu sabor.

- Ora pois, disse o Boca, isto mi’cheira a sacanagem!!!
- É Boca, Porra!!, você não viu, é a minha prima chamada Vera a quem vos falo!!! – esclareço.

hahahahahahahah.....
ahahahahahahah.....

O Boquinha, de doer o estômago, apóia-se em mim para sentar na calçada, puxa-me e me olha dizendo:

- Muito boa...
-Que, A piada? – pergunto
-A prima, ora bolas? – esbraveja, ri e emenda:
- EMRIQI, veja esta, já escrevestes para Onam?
- Ah sim – respondo - todo dia dou-lhe a palavra!!!!”
– ahahahahahh,
Gregório dá um gole na botilla. “Veja então...”, toma um ar, e manda:

NECESSIDADES FORÇOSAS DA NATUREZA HUMANA

Descarto-me da tronga, que me chupa,
Corro por um conchego todo o mapa,
O ar da feia me arrebata a capa,
O gadanho da limpa até a garupa.

Busco uma Freira, que me desentupa
A via, que o desuso às vezes tapa,
Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.

Que hei de fazer, se sou de boa cepa,
E na hora de ver repleta a tripa,
Darei, por quem ma vaze toda Europa?

Amigo, quem se alimpa da carepa,
Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,
Ou faz da sua mão sua cachopa.


- Hey Gregório – exalto - que beleza!!!
Eu tenho um recado a Onam, também:
Saio à atropelada num círculo na rua, e declamo:

PUNHETA

Poeta ser solitário,
Punheta em pensamentos a companhia
Tua.

Às vezes, o poeta punheta
A arte, o conhecimento
E, de tanta beleza em seus olhos, também punheta.

Pobre poeta, pobre,
Punheta a dor e fazpede para parar.
E declama: Punheta não, punheta não!

Dono das árvores, do sol,
Dos bichos nos postes fios condutor,
Dono de tudo, meu poeta, respondes:

"De tudo e de nada,
Faço tudo e fica nada,
Mas eu punheto, bem punheto".

- Ora EMRIQI, muito bom, gostei!!! – disse o Boca – ajude-me a levantar... o boteco já vai fechar. Vamos bater pé por lá.

“Viva o Boca!!!”- exclamei. Hahaha...

No bar, depois de tanto empenho na arte da vadiagem, a sorrir para a Lua, que está nova, meio escondida, Gregório abre a sessão novamente:
-EMRIQI, vou fazer jus a meu nome... segure esta. E Gregório lançou:

À DESPEDIDA DO MAU GOVERNO QUE FEZ ESTE GOVERNADOR

Senhor Antão de Sousa de Meneses,
Quem sobe a alto lugar, que não merece,
Homem sobe, asno vai, burro parece,
Que o subir é desgraça muitas vezes.

A fortunilha autora de entremezes
Transpõe em burro o Herói, que indigno cresce
Desanda a roda, e logo o homem desce,
Que é discreta a fortuna em seus reveses.

Homem (sei eu) que foi Vossenhoria,
Quando o pisava da fortuna a Roda,
Burro foi ao subir tão alto clima.

Pois vá descendo do alto, onde jazia,
Verá, quanto melhor se lhe acomoda
Ser home em baixo, do que burro em cima.

E a patota toda zoava da Vocênhoria, e alguns emendavam piadas e outros defendiam-no.
Eu coloquei: - Eu não gosto de hipocrisia: um dia havia dois amigos a falar mal e contar galhardias da mulher de um terceiro amigo.

Ali... ali mesmo naquela mesa...
Aproveitei para escrever num guardanapo e enviei pelo Manoel pros marmanjos. Dizia:

CONVERSA DOS NAMORADOS

Você fala de boca cheia
Da sua vizinha, dessa vida alheia,
Pro seu amigo que ri, e não confessa,
Que o seu problema tá maior que essa.

Você que há muito nesta conversa induz,
A mostrar-se um quase-perfeito garanhão,
Queres o teu amigo que te seduz!
Queres comer com a bunda na sua mão!

Então, não venha com este papo furado,
Estou de fora e vejo: és tão homossexual
Quanto o fulano que tu tanto falas mal.

Pois, fantasmas nesta área, muitos têm.
E, assim como falas, queres comer alguém.
E, por orgulho, não queres aparentar pro amado.

- Opa! Que queres dizer com isto, gajo?! – Gregório me olha espantado.
- Ahahaha, Porra Boca, fala sério...sou da psicanálise...ahahahahahahaha
- Reichiana!!!.... emenda o danado.

Lá pelas tantas, o Boca resolve ir embora, que amanhã se encontrará com Maria dos Povos, mas antes, recomenda-me para não escrever estas coisas no meu Blog, “pode queimar teu filme... vão achar que és viado!!!”, “ahahahahahahahah”, “Mas é sério – e recomenda:

CONTEMPLANDO AS COISAS DO MUNDO DESDE O SEU RETIRO

Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
Com a sua língua ao nobre vil decepa:
O Velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por Tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra, o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.

Ahahahahahahah.....
E o Boca me dá uns tapinhas nas minhas costas, e diz: "Tchau, até más",“Manoel, quanto saiu?”.
O Manoel, dono do bar, diz que a conta já foi paga.
Eu ainda fico, para curtir mais um pouquinho, amanhã é folga.

“Tchau Boca!!!”

Para conhecerem mais poemas de Gregório de Matos e Guerra, tem estes sítios:

http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/gregorio.html

http://www.revista.agulha.nom.br/grego.html

E para os poemas de EMRIQI, continue a acompanhar este blog.

sábado, fevereiro 16, 2008

O Artista Inconfessável ( Eu e João Cabral)

(Aqui, faço uma reflexão me amparando no belo poema, começando a falar sobre o meu blog para pensar em algo maior, de repercussão)


Vai aí, no poema, o meu sentimento em relação a este blog.

O ARTISTA INCONFESSÁVEL

Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.

(João Cabral de Melo Neto - Museu de Tudo)

Eu gostaria de colocar photos, enfeitar o blog, deixá-lo mais agradável, mas não consigo, eu perco muito tempo com isto. Tempo que para mim, no momento, é precioso.
Eu acredito nos meus textos! Não digo que são brilhantes, que faço análises ótimas, mas eu até que escrevo bem, apesar de algumas idéias se encontrarem dentro de outras e estas dentro de mais outras, e eu vou puxando-as, meus textos são interessantes, tem tempero. Enfim, é duro dizer de mim e eu me elogiar, mas é com este leitor ninguém que eu dialogo.

De todo, faço o blog sabendo que é inútil, para nunca esquecer, e tomo muito cuidado porque eu me imagino me expondo para 1.000.000.00... de pessoas. Penso na minha profissão, na minha pessoa e consigo ser assim, mais eu (expressão vazia - mas decerto seja isto - eu me esvazio diante da certeza, da escrita e me preencho diante de novas formulações, caminhos da releitura de meus textos).
Sei que os tempos são pós-modernos e há uma cegueira geral, uma confusão, uma diluição de referências, e as pessoas se agarram a pedaços de barco que se rompeu, ilhados. Já enviei quatro, cinco textos entre contos, roteiros, poesias e ninguém me respondeu a não ser dois dos amigos meus dos cinquenta que enviei. As pessoas com quem convivo, nem sequer um comentário. Não leram. E eu não me admiro muito com isto pois, eu tenho dificuldade também de ler "textos grandes" na internet ( mas, textos dos amigos eu faço questão de ler, apesar de não receber). O que está acontecendo ? As pessoas não lêem nem os textos dos amigos...

Só mais um comentário: para mim João Cabral é o melhor poeta brasileiro e dos melhores do mundo. Não se ocupem com a palavra melhor e sim com a João.
Me perdoem os que acham que o maior é Drummond. Não entendo quando li numa revista que o Brasil (decerto, intelectuais, escritores) elegeu Drummond como o maior. Creio que em técnica João Cabral não fica atrás (mesmo porque ele é muito técnico). Mas, os poemas do Drummond são tão sem graça! o João Cabral tem fogo, ferro da peixeira, aponta mazelas, mostra a veia calejada por onde o sangue corre, não como o leito de um rio harmônico, mas como o solo de um rio intermitente, encrustrado de sol na terra.
E digo mais: João Cabral não perde para Fernando Pessoa (considerado o maior do mundo). Aqui, não coloco em competição. João Cabral traz muito a bela metáfora, embriagante, dilacerante do olhar Realidade, sendo assim, alucinante, porque a Realidade é a loucura e a Fantasia é a fuga, ilusão e normalidade dos sentidos. E mediante a isto, creio que João não é visto pelos cidadãos - cultos - brasileiros porque a colônia continua a enxergar Portugal, Inglaterra, Estados Unidos. Temos um Pessoa aqui no Brasil chamado João Cabral de Melo Neto, um Severino para o leitor ninguém!


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quinta-feira, fevereiro 14, 2008

FAUSTO, GOETHE e REICH

Acabei de ler o livro de Goethe e achei-o muito interessante. É um clássico! Naqueles tempos, posso imaginar que tenha despertado a ira de muitos; hoje, despertaria também. Goethe mostra Fausto, um médico, filósofo, teólogo, homem da ciência, que está confuso quanto à verdade universal. Este homem, que se diz, pretensiosamente, um grande intelectual, sofre um grande vazio e resignação frente aos outros homens, ao povo, onde julga-os serem inferiores. Fausto que sofre do desejo reprimido em sua carne, busca ascender a uma vida melhor no céu.

Mefistófeles, o Demônio, bate à porta do céu para falar com Deus e como bons amigos, faz um desafio a Deus: o de levar a alma de Fausto; homem que deverás, trilha um caminho de sacrifícios para chegar à Iluminação. Deus consente, dando “carta branca” a Mefisto. Aqui é interessante a posição de Goethe, onde coloca o Diabo e Deus em uma posição de complementariedade, onde um não existe sem o outro, ambos justos. Mas, Goethe coloca Deus no controle e superior a tudo. Suprime a concepção que um é do mal e outro é do bem. Deus, neste caso, precisa aceitar as ações do Diabo como prova da vida e da Iluminação a serem conquistado pelos homens. Creio que Goethe recorre aos mitos da Antiguidade Clássica, quando os deuses fazem dos humanos fantoches e riem muito disto e, é uma crítica contundente aos preceitos da Igreja Católica.

Mefisto vai até Fausto, quando este, em seu desespero, prepara-se para beber veneno, buscando, pretensiosamente, dar co´s pés nas portas do céu. Mefisto não diz nenhuma mentira, joga claro com Fausto. Este, que já leu de tudo e ‘entende de tudo”, acredita ser um espírito bom e já se entrega prontamente. Depois de várias promessas que Mefisto faz, Fausto diz que Deus nunca aparecera para ele e que ele aceita o acordo.

Aqui eu vejo no caráter de Fausto uma explicação reichiana para que o protagonista sele acordo com o diabo. Fausto selou o acordo mediante a promessa que Mefisto fez de ele conseguir uma dama. Fausto sabia que faria acordo com o Diabo, mas apostou tudo para desfrutar do corpo de uma donzela, mesmo que a morte o levasse após isto. Fausto:
Maldigo tudo então que o homem martiriza,
Com farsas e ilusões o cerceia e entibia,
Num mundo de infortúnios o prende e escraviza
Com as forças obscuras e tanta fantasia
”.

Fausto sabia de que nada valia Saber se não pudesse ser fulminado nos braços de uma mulher. Sabia que sem amor/sexo o homem estava fadado a viver na ilusão e na fantasia e a sorte de forças obscuras de seu próprio desejo.
Desta maneira, Fausto se corrompe (seus valores) porque ele nega a abstinência que a cultura católica (moral) dita; ele se faz humano e se mostra irracional, pois seu corpo clama para saciar seu fogo interno: “Mergulho com prazer em toda a perdição”, pois “ Escravo sempre sou, em tudo o que empenho”. Fausto está preso a um desejo reprimido.

O espírito de Deus a mim já desprezou!
Desligado estou da própria natureza


Fausto sabia que era um ser deformado ou pervertido e fez a sua escolha. Ele estava com muitas defesas para não sentir este fogo interno, para não sentir a força obscura, para não sentir sua miséria existencial. A tormenta é sentir este fogo. Seus sentimentos são ambivalentes como Reich demonstra: se a energia sexual não é descarregada, esta se lança para dentro e vai formar os impulsos secundários ( inclusive o que Freud chama de instinto de morte), que em última instãncia é a neurose. O suicídio é para Reich uma maneira brusca de liberar a energia sexual mediante a desfragmentação do corpo (ou seja, o corpo “explode”, pois se torna um panela de pressão). Fausto tinha ambivalências (impulsos secundários) de sentimentos em relação a Mefisto e Margarida (dama) e estava profundamente imbuído da moral católica que proíbe/ pune os prazeres sexuais e alimenta a neurose/ambivalência.
Outro sintoma de sua repressão sexual está na idealização de tudo. Reich mostra bem que com a repressão sexual, a sublimação em seus pequenos gozos se dará predominantemente na região cerebral, onde ali se concentrará grande parte da energia (sexual).
É como dar lingüiça ao cachorro esfomeado, ou melhor, fazer da coleira do cachorro lingüiça para amarrar o cão. É certo que o cão comerá a lingüiça e se libertará da coleira. É isto que faz a toda a Igreja que tem no sexo o ato pecaminoso, sujo, baixo, feio, cheio de regras e moral. As pessoas pecarão!! O Deus de Goethe certamente não é o mesmo dessas igrejas. Mas a moral no contexto da obra é sim o mesmo dessas igrejas.

Analiso só mais esta frase de Fausto: “Hoje me inspira horror toda e qualquer ciência”. Fausto era um cara frustrado com sua sabedoria. Ele não sabia o que fazer com ela, pois já havia lido de tudo e não havia achado a verdade. Ele por mais que era homem da ciência não conseguia dialogar com seu assistente que se mostrava mais sábio que ele. No fundo, Fausto não conseguia fazer ciência pois este trabalho era muito árduo e ele era incapaz de fazê-lo devido a privação de que passava, a privação sexual. Com seu biossistema funcionando encouraçadamente, ele não podia suportar mais tensão (desprazer/ privação) que é o que uma descoberta científica exige. Suas conclusões eram ilusórias, pois seu corpo funciona através da miséria existencial (emoção) que sentia.
Por isso que Reich é atual, ele entendeu a unidade funcional mente-corpo, o que hoje, cientistas da física quântica estão dizendo a mesma coisa.

Mefisto, que é o complemento de Deus, é o Espírito da Terra, da tentação, do desejo, creio que o Dionísio grego. Ele tem a postura nobre e é muito leal. Não pretende levar Fausto ao trágico Fim, como Fausto acredita, e sim, acredito eu, agremiá-lo no time daqueles que cedem aos desejos carnais. Deus aceita, como se estes fossem duas grandes multinacionais em que não precisassem disputar por um cliente, agremiá-lo. Mefisto traz algumas frases que estão de acordo com os preceitos reichianos e, toda a obra de Goethe está repleto de frases chaves que mostram a sabedoria do poeta sobre a vida ( e é por isso que este livro é um clássico). Mefisto:
Ouve:- ao gozo e às ações
te convidam com razões
”.
Estes versos sintetizam aquilo que Reich sintetizou da vida: “ O amor, o trabalho e o conhecimento são as fontes da nossa vida. Deveriam também governá-la”. Não sei se Reich leu esta obra, mas as duas relacionam igualmente estes conceitos: a consciência ( razões) permeando o amor (gozo) e o trabalho (as ações).
Outro verso de Mefisto:
"Mira, meu bom senhor, os bens desta existência!
Como coisas humanas as vemos dia a dia,
Devemos sempre agir com a máxima prudência,
Cuidar que no viver não nos falte alegria.

Um carrasco tu és! Mãos e pés certamente,
E a cabeça e as nádegas são todos teus.
Também todos os bens, que gozo livremente,
Deixam por acaso de ser sempre meus?
Se eu posso adquirir seis poldros bem fogosos,
Não são minhas forças que eles todos têm?
Então, coragem! Larga os humanos sentidos,
E no âmago do mundo entremos comovidos!
E digo com razão: o homem, ser pensante,
É como um animal no deserto perdido,
Por espírito mau em círculo envolvido,
Que em torno vê miragem, bela, verdejant
e!”

Nos versos em verde, percebe-se a sabedoria: que no ser pensante, se este está envolvido por espírito mau (sexualmente insatisfeito, mal-humor, pestiado) tudo o que em torno vê será uma ilusão, um falseamento da realidade. Isto, para um intelectual é a morte, a prisão, pois ele sabe que de nada adiantará seu raciocínio. Reich já dizia que o fenômeno que nós lemos com os nossos olhos segue a emoção que nós estamos sentindo. Se estamos maus, nossa visão será pessimista; se estamos tranqüilos, nossa visão estará mais próxima da parcimônia e da realidade. Por isso que Reich visou uma terapia que visasse a desobstrução da energia corporal-sexual da cabeça indo no sentido descendente à pélvis, para ter um melhor descarregamento sexual e não ficarmos sob a neurose que influí em nossos pensamentos. Esta terapia reichiana se chama “vegetoterapia”.
No verso em laranja mostra que a pessoa é a carrasca da própria pessoa, pois ela é a primeira a inibir/ punir a ela mesma. É o que Freud chamou, decerto, de super-ego. A pessoa própria se martiriza. Este martírio nada mais é que se defender do fogo interno ou de algo que supostamente internalizamos como um interdito(cultural), ou a pessoa se machuca ( no caso do masoquista) por uma culpa enorme, do qual se machucar será uma válvula de escape para a sua enorme angústia. Se machucando, a pessoa sente um prazer/dor do qual descarrega um pouquinho sua energia (o gozinho).
E em azul, o Diabo deixa bem claro que temos que ser agressivos e ir em busca dos bens da existência: comida, abrigo, sexo, místico. E não deixar que nos falte alegria.

Fala sério se Deus é o pai, o Diabo é a mãe. Deus fica lá, mais afastado, cuidando de nosso destino e a mãe alimenta, nos coloca no colo.

Fausto depois que conseguiu o amor de Margarida, despreza Mefisto. Mas um grande desastre acontece que coloca Margarida atrás das grades e Fausto com a ajuda de seu leal companheiro vai tirá-la da prisão. Ela não aceita. Ela que está enfurnada na moral católica prefere a morte que sair da prisão, e ficar com um peso na consciência do crime que cometeu. Aqui Goethe mostra, assim como Reich, que muitos já estão “mortos”, apagados na vida, por uma moral que tomou a consciência das pessoas e que não permite esta de gozar a vida. Não preciso dizer, mas sua energia sexual estará tão bloqueada que fará uma verdadeira muralha onde encastelará este fogo interno e junto encastelará a pessoa da Vontade de viver a vida. É esta Vontade que Nieztsche frisou tanto, e tanto apunhalou a moral católica.
Ao final, Fausto vai com o Diabo e deixa Margarida que já está perdida, morta, esperando ser levada ao céu. Interessante este final, da consciência de um homem que preferiu estar com o Mefisto do que com a moral católica (Margarida – que pede para os dois ficarem na prisão se amando, o amor eterno, romãntico)


Agradeço aos que chegaram até aqui. Este ensaio é uma relação do Fausto de Goethe ( um dos maiores poetas do mundo) com a teoria psicológica de Wilhelm Reich. É um breve ensaio, mas as correlações são muitas.

Apesar de contar sobre o livro, recomendo-o.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Pensando em Pessoa

Apresento dois poemas meus, o primeiro numa linda homenagem ao poeta, e o segundo tentando capturar um pouco o seu espírito, a sua estética:





"A alma-poeta, de pessoa,

É o olor da flor-de-lis, boa."







LÁ ESTÁ EU (A MALA)

Meu dono foi abandonado em pé.
O maquinista da Estação não parou.
Meu dono ficou petrificado como que
Aguardando pelo passado. Por este mesmo
Que passou...

Ele que tantou lutou,
Perseguiu seus ideais e tanto esperou "o momento".
Caminhou com a imaginação,
Se alimentou com sonhos.
Ele que foi tão assediado pelo herói
(Sua família assediou-o também, mas pouco agiu).
E fez curso de contabilidade/advocacia.
Ele que foi tão elogiado por sua visão de mundo.
Foi creditado a fazer um grande serviço,
Teve seu rosto cuspido e não-estapeado por pena, por desprezo,
Foi taxado de pretensioso pelo Sr. Amargurado.
E mesmo aí, algo nele fez mover suas perninhas para fora do Banco.

Meu dono me carregou até o pátio.
Daqui, carreguei-o...
Seus olhos-olheiras quedos, baixos, monstruosamente mortos,
Como que um cachaceiro, que depois de perder sua fortuna,
Apostas em corridas de cavalos, volta ao Jóquei, e perde o dinheiro da cachaça.
Meu dono que perde as palavras "O-QUE-ACONTECEU-?",
Letras que caem no abismo e ele as enxerga, do meio da ponte. Ao fundo, assiste sua imagem finda.
Homem que perdeu suas chances, depois de 30 largos anos, e que ganhou só a barriga.
Homem que ficou nú em plena noite de gala, com toda a classe de homens prestigiados e donzelas preteridas, a sorrirem.
Homem que carrega nas costas o peso do mundo e tropeça em cadáveres dos fantasmas no cemitério mal cuidado.
Carrego-o, esta massa, até a Estação donde temos que voltar
Para a Cidade de Pedra, linda cidade de sua infância.

Lá parado, entre poucos transeuntes,
Sua única lágrima cristalizara.
Este último sinal de adeus deixa o deserto de sua alma.
E eu fico agarrado a ele,
Aguardando-o, seu comando ou a sua...
( não sei - morte?)

II

De tanto que espero ( ele comigo na mão),
Resolvo me soltar ao chão e seguir.
Abrir-me: Folhas Velhas se soltam ao tempo,
Passando pelo trilho de ferro da Estação,
Pilastras, basuras, árvores, outros papéis, poeiras, bancos da praça.
E percorro outra mão, dizendo adeus àquele que me apeguei longos anos,
Desgarrando-me daqui, que um dia fui eu, meu dono.
Sinto-o deixar, mas há coisas que não voltam mais.
Engano meu? Será? Talvez.
Mas aquele homem não existe mais pois, foi ele que se deixou.

III

Fui colocado numa oficina,
Ao lado de caixas de ferramentas.
Estou eu lá, de couro, observando um trabalho artesanal.
Homens de barba amarelada, sujos de graxa.
TOC-TOC-TOC-, TAC-TAC-TAC, TUM-TUM-TUM !!!
A consertar, sorrir, gritar e dar pancada.
Em breve, servirei para trabalhar, carregando peças ou novos papéis contábeis.

Enquanto isto observo, sigo no meu galpão cheirando a madeira.





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quinta-feira, dezembro 20, 2007

Saara Nordestina

SAARA NORDESTINA

Roteiro



Cena Inicial – noite – Câmera grua-

A cam segue o mosquito (nas costas) que vem em direção a um barracão todo de madeira, e entra pelo buraco entre o teto e a parede. Um barracão situado no sertão árido nordestino... O mosquito pousa numa prateleira. O barraco, por dentro, possuí várias engenhocas penduradas nas paredes, tipo, cortador de lata, regador, coisas estranhas, de uso, tudo de material ferro.

Cena 2 – close na Regina ( morena encorpada com 38 anos, sempre andando bem arrumada)- cam pega Regina de outras maneiras

Regina corta com uma faca um pedaço de bolo.
“amanhã será um grande dia... (pausa)”
“serei famosa...(suspiro) famosa na capital”
“Ninguém me segura... a Regina, do Sertão, despontando do buraco para a Civilização”
“Tudo bem que é com a...”
“Samuel, como é que se chama mesmo o invento?”

Samuel ( senhor barbudo e com seus cabelos longos, ambos brancos, um pouco cansado, de seus 64 anos) numa rede, responde:
“Bicicleta, Regina”

Regina, tensiona e exclama em bom tom:
“Porra Samuel, B-I-C-I-C-L-E-T-A!!!” “Não poderia se chamar REGINETE!!”
“Que raios, inaugurarei uma ‘mixa’ de uma bicicleta”
(pausa) “é o que tem né...fazer o que? Se isso daí valesse mais que um cavalo, eu seria mais feliz”

“Samuel, você precisa inventar algo maior”
“ Você só faz abridor de lata, de garrafa, alicate, só coisas pequenas”

(Regina fala sentada, de cabeça baixa, em baixo tom, confidenciando a si mesma, mas para Samuel ouvir)
“Foi o meu maior vexame, quando inaugurei aquele abridor de garrafa com rosquinha...”
“Uh!!!”
“Não sei como me submeti a isto, nunca mais quero pagar este mico”

Samuel terminando de comer o bolo, com prato na mão, se ajeita na rede, numa postura mais ereta:
“É Regina, mas amanhã é coisa grande...vai revolucionar a cidade grande”

Regina, escuta, e mais esperançosa, ansiosa, sonha com sua fama:
“Amanhã de manhã vem a mídia, a televisão!!!” (pausa)
“Por que você não inventou a televisão, Samuel ?”

Regina corta outro pedaço de bolo e oferece a Carlos ( rapaz de seus 31 anos, cabelo escuro, curto, magro e estatura de 1m70) que estava sentado, ouvindo-os. Oferece outro pedaço a Samuel, mas ele acena que “não”

Regina:
“Samuel, você vai querer beber com a gente lá no bar ? o Carlos veio nos chamar !”

Samuel:
“Regina, Regina, você sabe que eu não bebo... e amanhã será um longo e agitado dia” “Entrevistas, Regina, repórteres!!”

Regina:
“Ah! ... então, nós vamos”


Cena 3 – externa – noite – Regina e Carlos saem do barraco e andam na cidade de barro. Um bar desponta de longe.

Regina e Carlos saem do barraco. E Regina logo puxa a conversa:
“E aí Carlos, eu preciso de uma resposta sua...” “Vamos meu amor!!” “ venha fugir comigo”.

Carlos, mostra indecisão, abaixa a cabeça e pensa numa maneira de se colocar.

Regina:
“Eu preciso tanto de um homem pra me proteger”
“um caralho duro, possante, invadindo a minha xoxota”
“Sentir o seu dedinho abrindo o meu cuzinho e aí...aí meu Deus!!”
“Venha... eu preciso de alguém para me foder todos os dias” “Você vai de cavalo e eu com esta maldita BICICLETA”

Cena 3.1onírica (efeitos de sonhos) – Regina imagina Carlos em cima do cavalo, sorrindo, eles lado-a-lado, ela de bicicleta, de mãos dadas ( o braço de Carlos, bizarramente comprido esticado). Ambos se olhando, apaixonadamente.
Volta Cena 3, Carlos corta:

“Regina...”

Regina:
“fala meu amor, fala” “Vamos ser felizes...sair por aí, pelo mundo”

Carlos:
“Regina, eu preciso te falar uma coisa...” (Regina ao fundo começa a fazer uma cara de estranhada, assustada, seu rosto se deforma mostrando seu medo)

“Eu vou me casar com Rosinha”
“E não é certo, nessa cidade, um homem casado ter uma amante”

-------------------Corte------ ---------------

Cena 4 – Bar externa – na mesa de sinuca
Regina:
“NNNããããããããooooooo!!!!

Regina solta o taco e se joga na mesa de sinuca, deitando o seu rosto, agarrando as bolas para si.

Close no jogador com palito no dente, ao lado de Carlos, vira o pescoço para Carlos e diz:
“Porra, com a Regina é Fóda”

Cena 5 – no meio da Rua – Noite – Regina volta chorando, a passos largos

Regina:
“droga... Droga... droga !!!”
“Que vida!!”
“Carlos não me quer mais, não vai me levar daqui, não quer mais me comer”

“ Deus ........(longa pausa)....... Você nem me vê”
“Me odeia!!”
“Não faz nada para eu sair desta merda de cidadezinha”
“Você vai ver só, vou eu!!!...”

Cena 6 – na frente do barraco, Regina entra – externa/interna -
- interna – Samuel está numa cadeira de balanço, acomodado, lendo um livro.
Regina vai direto para o canto da sala e pega bicicleta. Move o invento e vai em direção a porta.

Samuel, em tom ríspido:
“Aonde você vai, Regina!!!”

Rg grita: “Vou me embora”

Sm: “Volta aqui Regina, você não vai, não !!!”
“Me respeita!!!”

Rg: “Me respeita ?...”
“respeitar o quê... um velho desse que leva ‘um ano’ para levantar o pau!!!...que nem levanta o pau!!”
“Um velho inútil!!!”

Samuel começa a ter ‘falta de ar’:
“Regina!!...”

Rg: “ E toda a cidade sabe que você é um corno, seu velho INÙTIL!!!”

Regina escapa com a bicicleta.

Cena 8 – externa – Rua – noite
Regina saí pedalando desesperadamente... pedala sem harmonia, rapidamente.

Cena 9onírica – close – imagem do Samuel, como se Regina estivesse sonhando.
Samuel coloca as mãos no pescoço, como se estivesse se estrangulando:
“Oh ... Ô...Ô ...”
“CARALHO!!!!” -
Solta a mão do pescoço, caí na cadeira, com sua mão derrubando uma faca da mesa.

Cena 9.1onírica- close na faca – Mão de Samuel a agarra.

Cena 10 - Volta Cena 8 – externa –rua –noite
Aparece um buraco e Regina não desvia, caí, solta um grito.
Espatifada do chão, se levanta gemendo. Ajunta a bicicleta e vê que ela está quebrada. Testa a maquinaria que não anda mais.
Rg Fala baixinho, frustrada:
“Droga, essa... essa porcaria não serviu pra nada...velho inútil”

Volta o caminho carregando a bicicleta

Cena 11 – externo/interno – rua/barraco – Regina entra chorando, passa a bicicleta e abandona a porta aberta.
Regina:
“Samuel, seu velho babaca...”

Rg vê Samuel sentado na sua cadeira de balanço com um furo no peito e a faca ensangüentada no chão.
Ela anda até a frente da cadeira, se agacha e pega a faca, assombrada.

Cena 12 – interna – cam voltado para a porta
Carlos aparece com a cabeça na porta, incomodado, esgueira-se para dentro da casa e assiste Regina com a faca na mão. Dá meia volta, e na ponta dos pés saí da casa, passando a porta, corre.

Cena 13 – interna -
Regina, sem reação, senta na cama ao lado de Samuel (imóvel na cadeira)

Cena 14 – interna- cam voltado para a porta
Carlos chega com 2 policiais e uma multidão vem junto para acompanhar.
Ao avistar Regina, e esta vê Carlos, ele saí da frente dos policiais. Estes percebendo o seu aceno, rapidamente vai de encontro a Regina e a aborda.

Policial 1:
“ a Senhora está presa”

Policial 2 analisa o furo no Samuel. Percebe que ele está morto. Coloca as luvas, a toma de Regina e, fala ao companheiro:
“Já mandamos vir um especialista da capital”
“Amanhã ele estará aqui e poderá fazer o laudo da perícia”

Vira-se para Regina: “enquanto isto, a Senhora aguarda na cadeia”

Regina, atônita, enfraquecida, se deixa levar, e a multidão os cercam e saem todos juntos

Cena 15 – interna – travelling no corredor mostrando o teto – cela – solitária
(Barulho da tranca)
Regina anda um pouco e se senta na cama cinza.

Fica por um tempo Regina sentada. (Cam fixa)

Deita. (Cam por um tempo focando os olhos)

Cena 16 – interna –corredor – Cam fechada no rosto do policial que anda pelo corredor.
Abre cam – Policial abre a cela.

Policial: “ Dona Regina, vamos acordar!!”

Regina se levanta e logo vai em direção da porta. O policial a segue atrás.

Cena 17 – cam escura – somente sons do policial:

“A senhora está solta”
“ O laudo a inocenta” “serão averiguados as possibilidades de um suicídio ou de um crime”

Cena Final – externa – Dia – meio da rua
A Cidade parece uma cidade do far west em dia de duelo. Deserta.

Regina saí da cadeia, toma a rua, cambaleando, tonteada.
No meio da rua, se vira para um lado: vê casas abandonadas (vidraças quebradas, escuro, paredes caídas), vira-se para o outro lado, idem (sem imagens), se vira para frente e olha a Cam (fixa).
Caminha para a frente, olhando para a cam ( em direção a esta), caminha, com o olhar fixo e cansado.
Passa um carro Van da Reportagem correndo na sua frente, e ela despenca ao chão... FIM


sexta-feira, dezembro 14, 2007

a Porta pede padrão

este poema foi pensado em Foucault, e escrito na parede da UFSC no dia da Livre Expressão, dia este reservado para pintar as paredes do CFH. O poema não tem nome e deve ter sido escrito em 2004.

a Porta

a Porta pede padrão
para o Piá poder.
- Para Piá você entrar
é preciso 'não-piar'.

Entra encontrando seu canto
Sem encanto entristece
E tece sua tez ao outro
- Num tácito trampo de porco !

Aos poucos morre um tanto
seguindo Santo...voando acima.
As leis seguram-no ao teto
sua Casa de louco Assassina.

Super-Homem

mais um poema meu, escrito em Foz do Iguazu, ciudad mezclada com o jeito brasileiro. vale a pena conhecer lá e passa por Ciudad del este (Paraguay) y Nueva Iguaçu ( Argentina), uma cidade colada a outra, 2004.

Poema expressa no asfalto quente de Foz de Iguazu, num barzinho, tomando cerveja Conti. Que saudades!!!


Super-Homem

Só, ninguém viu.
Olhou o céu e sonhou
(imperfeição, vazio),
Ao redor vislumbrou:
O poder que emerge da cidade
Deus é a humanidade !

E sua ética figurada
Não foi sequer arranhada.
Comovido, se libertou:
"Posso fazer mais".
Uniu! seu poder amou.
Dirigiu homens, guerra e paz.